Cesario Alves
1993
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Fotografei a Escola Profissional de Santa Clara (EPSC) em 1993, pouco depois de acabar o curso de fotografia. O edifício do Mosteiro de Santa Clara e a EPSC estavam na alçada do Ministério da Justiça, a gestão era assegurada pela ordem Salesiana.
Era muito forte o desejo de fotografar, meter as mãos nas máquinas e nos químicos. O documentarismo humanista, praticado pelos fotógrafos da Agência Magnum com filme de 35 mm a preto e branco, ainda exercia uma grande influência na minha forma de ver e trabalhar. Procurei fazer um ensaio documental sobre a vida no interior do mosteiro, aproximado-me o suficiente para ver alguma coisa para lá do que se conhecia, mas não demasiado que me fizesse perder o sentido de enquadramento na paisagem urbana e social da cidade de Vila do Conde, onde se situa o edifício.

Os rapazes nestas fotografias eram utentes da escola e habitantes do mosteiro. Encontravam-se ali porque as suas vidas tinham complicações e dramas violentos. Conheci alguns deles pelo nome mas lamentavelmente não tive o cuidado de os anotar, espero que se encontrem bem hoje, nos seus trinta e tal anos.
Estas imagens revelam o momento em que se chegou a um entendimento e confiança mútua, que permitiu desenvolver uma experiência que por um lado retém a aparência e juventude dos rapazes, por outro evidencia uma construção deliberada de retratos com uma determinada pose.
O tempo de registar estas 39 fotografias no Ilford HP5 Plus, foi de libertação por fazer algo que não tinha como ambição produzir qualquer representação realista da vivência destas pessoas. Lembro-me de querer muito capturar a luz que se projetava e as sombras que se subtraiam de uma daquelas enormes janelas gradeadas, moldando os rostos e revelando a sua diversidade de formas, só para ver mais tarde como as fotografias a preto e branco transformam e dão a ver o que se fotografa.
O tempo também é um ‘punctum’ como nos esclarece a historiadora Maria do Carmo Serén na sua leitura da ‘Câmara Clara’ de Barthes, por isso, mesmo que outras fotografias tenham sido feitas naquele local, os instantes extraídos daquele tempo permanecem, irrepetíveis.

Uma seleção das fotografias do ensaio sobre a EPSC foram publicadas num livro de autor e uma exposição em 1994, a que chamamos ‘Oratório’, evocando uma iniciativa dos padres Salesianos com esse mesmo nome, que no passado reunia os rapazes da ‘correção’ com os da cidade, em atividades religiosas e desportivas.
Estes retratos nunca foram publicados, mas tal como outras fotografias no meu arquivo de negativos e de memórias, não param de reclamar a sua visibilidade, lembrando-me que o tecido do tempo faz com que as fotografias nos toquem cada vez mais.

 

Bibliografia:

Serén, M. do C., 2002. Metáforas do sentir fotográfico, Porto, Portugal: Centro Português de Fotografia.