Cesario Alves
Café no Cinema
no_cinema_04
no_cinema_05
no_cinema_06
no_cinema_07
no_cinema_08
no_cinema_09
no_cinema_10
no_cinema_11

“Café no Cinema” insere-se num projecto pessoal de estudo e exibição da memória fotográfica da cidade de Vila do Conde, através do acervo da casa de fotografia Adriano, actualmente incluído no Arquivo Municipal.

“Café no Cinema” is part of an ongoing project of study and exhibition of the photographic memory of the city of Vila do Conde through the legacy of the photographic studio Adriano, now part of the municipal archive. 

 

 

Construção do cine-teatro Neiva, década de 40. Espólio da Fotografia Adriano, arquivo fotográfico da Câmara Municipal de Vila do Conde.
Cine-teatro Neiva under construction in the 1940’s. Legacy of Fotografia Adriano, municipal archive of Vila do Conde.

 

 

Exterior do cine-teatro Neiva, década de 40 . Espólio da Fotografia Adriano, arquivo fotográfico da Câmara Municipal de Vila do Conde.
Outside view of cine-teatro Neiva in the 1940’s. legacy of Fotografia Adriano, municipal archive of Vila do Conde.

 

 

CAFÉ NO CINEMA

I

Com 17 anos de idade, em 1949, Carolina Ferreira  foi servir para a casa do sr. Adroaldo Gonçalves de Azevedo, conhecido amador de teatro, que administrava o bar do Cine-Teatro Neiva. Carolina contou-me que, entre as suas tarefas de casa, tinha que fazer o café que depois transportava em cântaras para o bar.
António Alves, que namorava com Carolina, ajudava a transportar as cântaras. Dessa forma entrava antes das sessões iniciarem, via os filmes e os espetáculos sem pagar, enquanto esperava que Carolina terminasse o seu trabalho. Nos intervalos ela ia aos camarotes servir café e vender doces, quando passava por António enchia-lhe os bolsos de rebuçados.
Carolina, minha mãe, trabalhou no Cine-Teatro Neiva até aos 22 anos, quando se casou com António, meu pai.

In 1949 Carolina Ferreira was 17 years old and went to work as a maid for Mr. Adroaldo Gonçalves de Azevedo. He was a well known theatre amateur who managed the bar at Cine-Teatro Neiva in Vila do Conde. She told me that among her house duties, she had to make the coffee that was then taken to the bar in pitchers.

António Alves. who was dating Carolina, helped carrying the pitchers. In that way he went in before the sessions started and watched the films and shows for free, while waiting for Carolina to finish her work. During intermissions she went up to the boxes to serve coffee and sell sweets. When she went past António she filled his pockets with candy.

Carolina, my mother, worked at Cine-Teatro Neiva until she was 22, the age she married António, my father.

 

 

Interior do cine-teatro Neiva, década de 40. Espólio da Fotografia Adriano, arquivo fotográfico da Câmara Municipal de Vila do Conde.
Inside view of cine-teatro Neiva in the 1940’s. Legacy of Fotografia Adriano, municipal archive of Vila do Conde.

 

 

Recorte do Jornal “Renovação – Pela Terra pelo Estado Novo”, 12 de Março de 1949.
Fragment of local newspaper “Renovação – Pela Terra pelo Estado Novo”, March 12, 1949.

 

 

II

Nascido em 1916, Artur do Bonfim lembra-se de ir ver o Charlot ao teatro Afonso Sanches, em Vila do Conde. Relata que nesses tempos de cinema mudo quem tocava o piano a acompanhar os filmes era o compositor João Saraiva.
O Afonso Sanches tinha sido concebido à medida do Theatro Circo, de Braga e do Sá da Bandeira, no Porto, havia todo o tipo de espectáculos.  Artur do Bonfim era amador de teatro e também lá teve algumas actuações. Lembra-se da chegada do cinema sonoro em 1934, e do primeiro filme sonoro a que assistiu: “O Congresso que Dança”.

Born in 1916, Artur do Bonfim remembers going to see Charles Chaplin’s films at Afonso Sanches Theatre in Vila do Conde. He says that in those days of silent movies it was the composer João Saraiva who played the piano live to the films.

The Afonso Sanches had been made to match Theatro Circo in Braga and Sá da Bandeira in Oporto, it hosted all kinds of shows. Artur do Bonfim was into amateur theatre and also played there a few times. He remembers the arrival of talkies in 1934 and the first movie with sound he saw: Erik Charell’s “The Congress Dances”.

 

 

Recorte do Jornal Renovação – Pela Terra pelo Estado Novo, 9 de Junho de 1934.
Fragment of local newspaper “Renovação – Pela Terra pelo Estado Novo”, June 9, 1934.

 

 

A sala do teatro Afonso Sanches foi-se degradando à medida que se entrava na década de 40 e o cinema passou a projectar-se na Esplanada da avenida Júlio Graça, durante alguns anos, no Verão.
Ainda nos anos 40 aparece uma nova sala de cinema em Vila do Conde. O jornal Renovação – Pela Terra pelo Estado Novo, publica vários artigos que nos dão conta de uma certa tristeza pela sorte do antigo teatro, que ficou na posse da Santa Casa da Misericórdia, mas também de uma certa polémica em relação ao novo cinema, do empresário Joaquim de Oliveira Neiva.
Em 1949 Artur do Bonfim já era jornalista e administrador do jornal Renovação e tinha um assento reservado no Cine-Teatro Neiva, tal como os jornalistas do Primeiro de Janeiro e do Jornal de Notícias, cedido em troca da divulgação do filme da semana nas respectivas publicações. Descreve que dos filmes que passaram no Neiva nesses tempos não se lembra bem, que ia lá para fazer companhia ao velho José Maria (pai de José Régio) e tomar um café.

The Afonso Sanches theatre started to decline as it entered the 1940’s and films started to be shown at the esplanade of Avenida Júlio Graça for some years during the summer. Still in the 40’s a new theatre hall appeared in Vila do Conde. The local newspaper Renovação – Pela Terra pelo Estado Novo, published several articles that tell us about a certain sadness due to the fate of the old theatre which was then owned by Santa Casa da Misericórdia (a major Portuguese charitable institution), but also of some controversy regarding the entrepreneur Joaquim de Oliveira Neiva’s new theatre.

In 1949 Artur do Bonfim was already a journalist and manager of the the newspaper “Renovação” and had a reserved seat at the new Cine-Teatro Neiva, as did journalists from other newspapers such as “Primeiro de Janeiro” and “Jornal de Notícias”, which were granted in exchange for publicity for the weekly film in their dailies. He tells us that he doesn’t remember the films shown in those days, that he went there to keep company to old José Maria (José Régio’s father) and have a cup of coffee.

 

 

Texto de Cesário M. F. Alves a partir de relatos orais de Carolina Ferreira e Artur do Bonfim.
Fotografias do espólio da Fotografia Adriano, gentilmente cedidas pelo Arquivo Municipal de Vila do Conde.

Text by Cesário M. F. Alves from conversations with Carolina Ferreira and Artur do Bonfim.
Photographs from the municipal archive of Vila do Conde.

 

Exposição / Exhibition:
Centro de Memória de Vila do Conde.
14/12/2008 – 30/07/2009

Impressão fotográfica em papel de sal de prata a preto e branco e impressão lenticular a partir de 3 fotografias.

Black and white silver printing and lenticular printing from 3 photographs.